quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Papel e importância da Educação na Promoção do Movimento de Inovação em Moçambique

José dos Santos Baptista Universidade Pedagógica Delegação de Nampula Moçambique A presente comunicação pretende reflectir sobre o papel e importância da Educação na promoção do movimento de inovação em Moçambique. Esta comunicação se enquadra no conjunto de intervenções realizdas no “Primeiro Diálogo Regional sobre Inovação em Nampula”. Lembremos que falar de inovação “convém ter presente que o conceito de «inovação» não encontra as suas raízes no campo educacional. Trata-se, […] de um conceito com origem na empresa industrial, essencialmente relacionada com a eficácia e a rentabilidade de um determinado sistema produtivo” (VILAR, 1993:13). VILAR (1993:13) chama-nos a atenção para a necessidade de percebermos que “a inovação deve gerar elementos de ruptura com os processos vigentes […] porque a ruptura gerada não significa, nunca, a supressão de tudo quanto constitua o sistema, mas apenas, e tão só, um ponto de partida para um novo equilíbrio”.~ Reconhecemos que Moçambique está a quem das expectativas em relação às inovações e que já existem tendências e perspectivas iniciais e positivas que se tem feito nos últimos tempos para a promoção das inovações. Esta limitação é justificada pela falta de verdadeiros movimentos de promoção de inovações e inovadores. Aliás, das constatações na nossa realidade, é possível afirmar que nos espaços escolares existem potencialidades para promover as inovações, mas esses espaços são confrontados por dificuldades organizativas, formativas e limitações no aperfeiçoamento do corpo docente. Numa rápida análise que podemos fazer sobre a situação dos movimentos de inovações até ao presente momento, comparando com outras nações, apresentamos níveis pouco produtivos e sem expressão nacional e internacional. Devemos reconhecer a quase ausência de investimentos de risco. É neste contexto que o Governo de Moçambique já definiu a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique (ECTIM), aprovada em Junho de 2006. Lembremos que nesse documento se focaliza a importância da inovação como um elemento chave para o crescimento e transformação da economia. Moçambique necessita tornar a ciência e tecnologia uma prioridade estratégica para o desenvolvimento nacional e é através da Educação e seus parceiros, como co-actores, que este facto se tornará exequível. Contudo, cabe-nos questionar, como isto deverá ocorrer? Tal questionamento é importante se colocado uma vez que os resultados para ser positivos, será inevitável que reflictamos sobre o papel das universidades na nossa sociedade. Sabemos, hoje, que a maioria das instituições funciona com limitações. É assim que podemos destacar a impotência das universidades de levarem a sua missão principal de ensino, pesquisa e extensão. Deste modo, exige-se que as universidades tomem a sua missão a peito, pois, sabemos que são muito poucas as instituições deste nível que caminham neste rumo. A crítica que podemos fazer a este estado de coisas, passa, necessariamente, pelo papel e importância da educação na promoção desta responsabilidade vital. As universidades precisam dar respostas práticas sobre a investigação e inundarem as suas práticas com verdadeiros movimentos de investigação e inovação tecnológica. Nas universidades notam-se fragilidades no acompanhamento e promoção das poucas inovações nacionais e, no país, os pequenos movimentos circunscrevem-se em algumas “feiras” um pouco dispersas pelo país e que pouco têm visualizado e garantido a continuidade das amostras inovadoras expostas nessas feiras. Isto quer dizer que nos falta uma verdadeira política de promoção de iniciativas para a inovação. Daí que é imperioso chamar e juntar as empresas (públicas e privadas) e universidades para exercer, experienciar, desenvolver e compartilhar os “frutos” resultantes das inovações. O que observamos presentemente é que as empresas públicas e privadas pouco ou quase nada apostam nos projectos de inovação nacional e as que se interessam são insignificantes e pouco divulgam as acções e resultados das suas parcerias com os inventores/ inovadores. Daí que se constata-se ausência de fundos de capitais de risco; falta de sensibilidade dos empresários em relação às inovações. Caberá a universidade quebrar este mal-estar e assumir um maior protagonismo a escala nacional. Partimos nesta reflexão do conhecimento do mundo actual globalizado, onde a concorrência e competitividade assumem destaque a nível industrial, económico e financeiro e onde a eficácia e produtividade são o slogan e metas das organizações e dos processos produtivos. Os resultados desta concorrência e competitividade geram mudanças e necessidades inovadoras… SILVA et al (s/d):“ Essas inovações, necessárias e imprescindíveis, podem surgir a partir de idéias inesperadas e imprevisíveis, mas, existentes tacitamente na mente das pessoas que compõem as diversas organizações”. Estes autores reforçam ainda a sua ideia: Para transformar este conhecimento tácito em conhecimento explícito e, a partir daí, poder criar inovações, as pessoas devem ser estimuladas, motivadas e incentivadas a participarem ativamente dos processos decisórios, e principalmente, a compartilharem seus conhecimentos tácitos, na forma de experiências vividas, “arquivadas”, em suas mentes (Ibidem). Daí que a gestão deste conhecimento, poderá ser o papel principal da Educação. Falar, hoje, em inovação, vemo-nos obrigados a recordar alguns episódios da história do próprio homem e focar aspectos das primeiras invenções. Assim, não podemos falar da inovação sem antes falar da vida do homem ser pensante como inventor: “Fabricador de instrumentos de trabalho, de habitações, de culturas e sociedades, o homem é também agente transformador da história” (LEVÊQUE, 1998). É fundamental lembrar que a pedra e o bronze foram os materiais aproveitados pelo homem para fabricar suas ferramentas e suas armas e marcam as primeiras idades do desenvolvimento das sociedades humanas . Importa também recordar neste âmbito que “a história do homem é, assim, a história das suas faculdades de adaptação” (LEVÊQUE, 1998:10). Não será intenção desta comunicação focar a história do homem e sua evolução, mas sim reter algumas invenções que marcaram a suas conquistas na criação e aperfeiçoamento de ferramentas que “mediatizam a força e a habilidade do homem e lhe conferem (…) domínio sobre a Natureza”( LEVÊQUE, 1998:11). Dentre as várias invenções, destacam-se sem dúvidas a invenção do fogo (instrumento/ arma para conquistar terras frias e para defesa contra animais ferozes e mais tarde para cozer alimentos e fabricar outras ferramentas, utensílios para a sua sobrevivência), Também se revelam o trabalho da pedra, ferramentas como as primeiras conquistas essenciais que marcaram o domínio do homem sobre a Natureza. Quando é que de facto o homem “inventa”? Na história do homem, o marco decisivo foi quando este inventou a agricultura cerealífera e a domesticação dos animais. E, numa fase mais tardia da história da humanidade, a “revolução industrial” traz inúmeras mudanças sociais e intelectuais, não só industriais e necessitamos reconhecer que nem tudo foi “mar-de-rosas” nessa época: “[…] mas também permitiu que se mantivessem algumas posições privilegiadas durante um excessivo espaço de tempo e foi muitas vezes aproveitado para dificultar o caminho a novas criações: durante cerca de um quarto de século, por exemplo, James Watt foi autorizado a proibir outros mecânicos de construírem novos tipos de máquinas a vapor, mesmo já com autorização sua” (ASHTON, 1995:33). É necessário reconhecer que, na altura, o sistema de patentes dificultava o rápido desenvolvimento das inovações. No entanto, “a revolução industrial foi também uma revolução de ideias. Se estabeleceu um avanço na compreensão e domínio da natureza, deu também início a uma nova atitude para com os problemas da sociedade humana” (ASHTON, 1995:42). Daí que Porquê inovar? É sempre profundamente necessário compreender a pertinência desta questão para percebermos a importância da Educação para promover movimentos de inovação em Moçambique. É relevante que se consciencializem aos fazedores dos curricula que devem pensar numa educação para a inovação e a relevância a ser dada no domínio da inovação para o desenvolvimento nacional nos diversos campos sociais, industriais, económicos, etc. Não é novidade que as inovações constituam ideias e intenções explícitas nos novos trajectos de desenvolvimento e que os reptos lançados até a presente data constituam um despertar na procura de soluções relativas aos problemas de essenciais de sustentabilidade das nações em desenvolvimento nos variados quadrantes deste planeta. O homem desde às origens vive numa continuada confrontação e competição entre o existente e o melhorado, entre o velho, o novo e o renovado/ inovado, no desejo frenética de procura de sobrevivência, eficiência, produtividade e rentabilidade. É assim que as inovações estão sempre no quotidiano das pessoas e não nos cabe aqui descrever e discutir os confortos e desconfortos dessas inovações. Mas sublinhar que “esta necessidade de ser competitivo, de manter-se vivo ou de atirar-se e manter-se à frente dos concorrentes é a noção fundamental da freqüente procura da inovação”- Mañas (2001) citado por SILVA et a l(s/d). Quando se fala das inovações vindas da revolução industrial, não se fala somente das “mecanizações”, mas também de inovações de variada espécie: “na agricultura, nos transportes, na indústria, no comércio e na finança, que surgiam com uma rapidez para a qual é difícil encontrar paralelo em qualquer época ou região.” Em relação à revolução industrial, PRADA (1966:54) explica-nos que os primeiros inventos aparecem, no sector mais desenvolvido, na indústria têxtil ligada ao algodão SILVA et al (s/d:1) explicitam melhor o conceito de inovação tecnológica: “[…] muitas vezes pensa-se apenas em máquinas e equipamentos de última geração, sofisticados computadores, tecnologia de ponta, entre outros. Mas a inovação tecnológica não é apenas isso. Também novas formas de se fazer as coisas, novos serviços, novos processos e procedimentos podem ser considerados como inovações tecnológicas.” REIS (2004) citado por SILVA et al (s/d) explica: “Inovações tecnológicas incluem novos produtos, processos e serviços e também mudanças tecnológicas em produtos, processos e serviços existentes”. Acrescentando que “mesmo algumas pequenas alterações nos processos que já estão sendo utilizados podem ser consideradas como inovações tecnológicas” (Ibidem). Ao falarmos da educação, há que ter consciente: “Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio” (Freire, s/d:35). Daí que o papel da Educação será de sensibilizar as massas pensantes e instituições para a importância das inovações como um instrumento fundamental de desenvolvimento individual, social, tecnológico e económico de Moçambique. No entanto, como deverá ser feito isto no âmbito educativo? A Educação em Moçambique necessita adoptar acções estratégicas que promovam os movimentos de inovação nas escolas moçambicanas uma vez que a nação, no seu todo, está dependente das acções e produtores do exterior. Julgamos ser importante adoptar políticas de propriedade intelectual que irão promover mudanças imediatas nas estruturas nacionais nos métodos de trabalho. SILVA et al (s/d:2) explicam: “Uma maneira de se promover inovações tecnológicas nas organizações, é a efetiva utilização da gestão do conhecimento.” Assim, as universidades devem incrementar as experimentações e oferecer acompanhamento especializado. Estas deverão fomentar parcerias com empresas para desenvolver e dedicar-se ao melhoramento dos métodos de produção. No entanto, cabe questionar que incentivos se precisam para promover este movimento? A meu ver “escola” deve ser comparada a uma fábrica de ideias inovadoras onde a partilha de conhecimentos e experiências é indispensável. E que é importante aproximar cada vez mais as universidades, empresas e as comunidades em redes de interesses partilha mútua. Termino a minha intervenção com uma questão de reflexão: Como conseguir e progredir na promoção da inovação em Moçambique? Bibliografia ASHTON, T.S. (1995). A Revolução Industrial. Mira-Sintra: Publicações Europa -América. In trad. de Jorge de Macedo. FREIRE, Paulo (s/d). Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra. LEVÊQUE, Pierre (1998). As Primeiras Civilizações - Volume I – Os Impérios do Bronze. Lisboa: Edições 70. PRADA, Valentin Vazquez de (1966). História Económica Mundial II – Da Revolução Industrial à Actualidade. Porto: Livraria Civilização Editora. In trad. de Armando Bacelar e Elisa Amado Bacelar. VILAR, Alcino Matos (1993). Inovação e Mudança – Na Reforma Educativa. Rio Tinto: Edições Asa. SILVA, Fábio Gomes et al (s/d). A Promoção da Inovação Tecnológica nas Organizações através da Gestão do Conhecimento: Um Estudo de Caso na Indústria de Embalagens. In: http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/ebook/producao1/9_Fabio_Gomes_da_Silva.pdf Acedido em 1/10/2011, 9h:40mn.

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