segunda-feira, 4 de maio de 2015

A SOBERANIA LINGUÍSTICA DAS EX-COLÓNIAS EM ÁFRICA: A VALORIZAÇÃO DAS VARIEDADES DO PORTUGUÊS

RESUMO A comunicação tem com objecto as variedades linguísticas das ex-colónias ocidentais, bem como a questão da soberania linguística dos países africanos tendo em conta a valorização das variedades do português. Tem como objectivos discutir a questão de não valorização e reconhecimento das variedades linguísticas usadas nos países africanos e no mundo. Coloca-se como questão base: “o que impede os países africanos de valorizarem e reconhecerem as suas variedades linguísticas do português? Em relação a este questionamento, a principal conclusão é que os preconceitos existentes nos países africanos fragilizam os estados soberanos africanos na tomada de decisão sobre as suas autonomias. Faz-se antes uma descrição sobre o conceito de soberania, relacionando com a soberania linguística; em segundo plano, foca-se a necessidade de valorização das variedades do português nas ex-colónias uma vez que, hoje, fala-se muito da existência de variedades africanas da língua portuguesa e apontam-se características identitárias e aborda-se os contornos das variedades; e, por fim, analisa-se aspectos relativos a valorização e reconhecimento da variedade linguística no que tange os preconceitos. Palavras-chave: soberania, variedades, valorização, reconhecimento, preconceitos.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Papel e importância da Educação na Promoção do Movimento de Inovação em Moçambique

José dos Santos Baptista Universidade Pedagógica Delegação de Nampula Moçambique A presente comunicação pretende reflectir sobre o papel e importância da Educação na promoção do movimento de inovação em Moçambique. Esta comunicação se enquadra no conjunto de intervenções realizdas no “Primeiro Diálogo Regional sobre Inovação em Nampula”. Lembremos que falar de inovação “convém ter presente que o conceito de «inovação» não encontra as suas raízes no campo educacional. Trata-se, […] de um conceito com origem na empresa industrial, essencialmente relacionada com a eficácia e a rentabilidade de um determinado sistema produtivo” (VILAR, 1993:13). VILAR (1993:13) chama-nos a atenção para a necessidade de percebermos que “a inovação deve gerar elementos de ruptura com os processos vigentes […] porque a ruptura gerada não significa, nunca, a supressão de tudo quanto constitua o sistema, mas apenas, e tão só, um ponto de partida para um novo equilíbrio”.~ Reconhecemos que Moçambique está a quem das expectativas em relação às inovações e que já existem tendências e perspectivas iniciais e positivas que se tem feito nos últimos tempos para a promoção das inovações. Esta limitação é justificada pela falta de verdadeiros movimentos de promoção de inovações e inovadores. Aliás, das constatações na nossa realidade, é possível afirmar que nos espaços escolares existem potencialidades para promover as inovações, mas esses espaços são confrontados por dificuldades organizativas, formativas e limitações no aperfeiçoamento do corpo docente. Numa rápida análise que podemos fazer sobre a situação dos movimentos de inovações até ao presente momento, comparando com outras nações, apresentamos níveis pouco produtivos e sem expressão nacional e internacional. Devemos reconhecer a quase ausência de investimentos de risco. É neste contexto que o Governo de Moçambique já definiu a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique (ECTIM), aprovada em Junho de 2006. Lembremos que nesse documento se focaliza a importância da inovação como um elemento chave para o crescimento e transformação da economia. Moçambique necessita tornar a ciência e tecnologia uma prioridade estratégica para o desenvolvimento nacional e é através da Educação e seus parceiros, como co-actores, que este facto se tornará exequível. Contudo, cabe-nos questionar, como isto deverá ocorrer? Tal questionamento é importante se colocado uma vez que os resultados para ser positivos, será inevitável que reflictamos sobre o papel das universidades na nossa sociedade. Sabemos, hoje, que a maioria das instituições funciona com limitações. É assim que podemos destacar a impotência das universidades de levarem a sua missão principal de ensino, pesquisa e extensão. Deste modo, exige-se que as universidades tomem a sua missão a peito, pois, sabemos que são muito poucas as instituições deste nível que caminham neste rumo. A crítica que podemos fazer a este estado de coisas, passa, necessariamente, pelo papel e importância da educação na promoção desta responsabilidade vital. As universidades precisam dar respostas práticas sobre a investigação e inundarem as suas práticas com verdadeiros movimentos de investigação e inovação tecnológica. Nas universidades notam-se fragilidades no acompanhamento e promoção das poucas inovações nacionais e, no país, os pequenos movimentos circunscrevem-se em algumas “feiras” um pouco dispersas pelo país e que pouco têm visualizado e garantido a continuidade das amostras inovadoras expostas nessas feiras. Isto quer dizer que nos falta uma verdadeira política de promoção de iniciativas para a inovação. Daí que é imperioso chamar e juntar as empresas (públicas e privadas) e universidades para exercer, experienciar, desenvolver e compartilhar os “frutos” resultantes das inovações. O que observamos presentemente é que as empresas públicas e privadas pouco ou quase nada apostam nos projectos de inovação nacional e as que se interessam são insignificantes e pouco divulgam as acções e resultados das suas parcerias com os inventores/ inovadores. Daí que se constata-se ausência de fundos de capitais de risco; falta de sensibilidade dos empresários em relação às inovações. Caberá a universidade quebrar este mal-estar e assumir um maior protagonismo a escala nacional. Partimos nesta reflexão do conhecimento do mundo actual globalizado, onde a concorrência e competitividade assumem destaque a nível industrial, económico e financeiro e onde a eficácia e produtividade são o slogan e metas das organizações e dos processos produtivos. Os resultados desta concorrência e competitividade geram mudanças e necessidades inovadoras… SILVA et al (s/d):“ Essas inovações, necessárias e imprescindíveis, podem surgir a partir de idéias inesperadas e imprevisíveis, mas, existentes tacitamente na mente das pessoas que compõem as diversas organizações”. Estes autores reforçam ainda a sua ideia: Para transformar este conhecimento tácito em conhecimento explícito e, a partir daí, poder criar inovações, as pessoas devem ser estimuladas, motivadas e incentivadas a participarem ativamente dos processos decisórios, e principalmente, a compartilharem seus conhecimentos tácitos, na forma de experiências vividas, “arquivadas”, em suas mentes (Ibidem). Daí que a gestão deste conhecimento, poderá ser o papel principal da Educação. Falar, hoje, em inovação, vemo-nos obrigados a recordar alguns episódios da história do próprio homem e focar aspectos das primeiras invenções. Assim, não podemos falar da inovação sem antes falar da vida do homem ser pensante como inventor: “Fabricador de instrumentos de trabalho, de habitações, de culturas e sociedades, o homem é também agente transformador da história” (LEVÊQUE, 1998). É fundamental lembrar que a pedra e o bronze foram os materiais aproveitados pelo homem para fabricar suas ferramentas e suas armas e marcam as primeiras idades do desenvolvimento das sociedades humanas . Importa também recordar neste âmbito que “a história do homem é, assim, a história das suas faculdades de adaptação” (LEVÊQUE, 1998:10). Não será intenção desta comunicação focar a história do homem e sua evolução, mas sim reter algumas invenções que marcaram a suas conquistas na criação e aperfeiçoamento de ferramentas que “mediatizam a força e a habilidade do homem e lhe conferem (…) domínio sobre a Natureza”( LEVÊQUE, 1998:11). Dentre as várias invenções, destacam-se sem dúvidas a invenção do fogo (instrumento/ arma para conquistar terras frias e para defesa contra animais ferozes e mais tarde para cozer alimentos e fabricar outras ferramentas, utensílios para a sua sobrevivência), Também se revelam o trabalho da pedra, ferramentas como as primeiras conquistas essenciais que marcaram o domínio do homem sobre a Natureza. Quando é que de facto o homem “inventa”? Na história do homem, o marco decisivo foi quando este inventou a agricultura cerealífera e a domesticação dos animais. E, numa fase mais tardia da história da humanidade, a “revolução industrial” traz inúmeras mudanças sociais e intelectuais, não só industriais e necessitamos reconhecer que nem tudo foi “mar-de-rosas” nessa época: “[…] mas também permitiu que se mantivessem algumas posições privilegiadas durante um excessivo espaço de tempo e foi muitas vezes aproveitado para dificultar o caminho a novas criações: durante cerca de um quarto de século, por exemplo, James Watt foi autorizado a proibir outros mecânicos de construírem novos tipos de máquinas a vapor, mesmo já com autorização sua” (ASHTON, 1995:33). É necessário reconhecer que, na altura, o sistema de patentes dificultava o rápido desenvolvimento das inovações. No entanto, “a revolução industrial foi também uma revolução de ideias. Se estabeleceu um avanço na compreensão e domínio da natureza, deu também início a uma nova atitude para com os problemas da sociedade humana” (ASHTON, 1995:42). Daí que Porquê inovar? É sempre profundamente necessário compreender a pertinência desta questão para percebermos a importância da Educação para promover movimentos de inovação em Moçambique. É relevante que se consciencializem aos fazedores dos curricula que devem pensar numa educação para a inovação e a relevância a ser dada no domínio da inovação para o desenvolvimento nacional nos diversos campos sociais, industriais, económicos, etc. Não é novidade que as inovações constituam ideias e intenções explícitas nos novos trajectos de desenvolvimento e que os reptos lançados até a presente data constituam um despertar na procura de soluções relativas aos problemas de essenciais de sustentabilidade das nações em desenvolvimento nos variados quadrantes deste planeta. O homem desde às origens vive numa continuada confrontação e competição entre o existente e o melhorado, entre o velho, o novo e o renovado/ inovado, no desejo frenética de procura de sobrevivência, eficiência, produtividade e rentabilidade. É assim que as inovações estão sempre no quotidiano das pessoas e não nos cabe aqui descrever e discutir os confortos e desconfortos dessas inovações. Mas sublinhar que “esta necessidade de ser competitivo, de manter-se vivo ou de atirar-se e manter-se à frente dos concorrentes é a noção fundamental da freqüente procura da inovação”- Mañas (2001) citado por SILVA et a l(s/d). Quando se fala das inovações vindas da revolução industrial, não se fala somente das “mecanizações”, mas também de inovações de variada espécie: “na agricultura, nos transportes, na indústria, no comércio e na finança, que surgiam com uma rapidez para a qual é difícil encontrar paralelo em qualquer época ou região.” Em relação à revolução industrial, PRADA (1966:54) explica-nos que os primeiros inventos aparecem, no sector mais desenvolvido, na indústria têxtil ligada ao algodão SILVA et al (s/d:1) explicitam melhor o conceito de inovação tecnológica: “[…] muitas vezes pensa-se apenas em máquinas e equipamentos de última geração, sofisticados computadores, tecnologia de ponta, entre outros. Mas a inovação tecnológica não é apenas isso. Também novas formas de se fazer as coisas, novos serviços, novos processos e procedimentos podem ser considerados como inovações tecnológicas.” REIS (2004) citado por SILVA et al (s/d) explica: “Inovações tecnológicas incluem novos produtos, processos e serviços e também mudanças tecnológicas em produtos, processos e serviços existentes”. Acrescentando que “mesmo algumas pequenas alterações nos processos que já estão sendo utilizados podem ser consideradas como inovações tecnológicas” (Ibidem). Ao falarmos da educação, há que ter consciente: “Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio” (Freire, s/d:35). Daí que o papel da Educação será de sensibilizar as massas pensantes e instituições para a importância das inovações como um instrumento fundamental de desenvolvimento individual, social, tecnológico e económico de Moçambique. No entanto, como deverá ser feito isto no âmbito educativo? A Educação em Moçambique necessita adoptar acções estratégicas que promovam os movimentos de inovação nas escolas moçambicanas uma vez que a nação, no seu todo, está dependente das acções e produtores do exterior. Julgamos ser importante adoptar políticas de propriedade intelectual que irão promover mudanças imediatas nas estruturas nacionais nos métodos de trabalho. SILVA et al (s/d:2) explicam: “Uma maneira de se promover inovações tecnológicas nas organizações, é a efetiva utilização da gestão do conhecimento.” Assim, as universidades devem incrementar as experimentações e oferecer acompanhamento especializado. Estas deverão fomentar parcerias com empresas para desenvolver e dedicar-se ao melhoramento dos métodos de produção. No entanto, cabe questionar que incentivos se precisam para promover este movimento? A meu ver “escola” deve ser comparada a uma fábrica de ideias inovadoras onde a partilha de conhecimentos e experiências é indispensável. E que é importante aproximar cada vez mais as universidades, empresas e as comunidades em redes de interesses partilha mútua. Termino a minha intervenção com uma questão de reflexão: Como conseguir e progredir na promoção da inovação em Moçambique? Bibliografia ASHTON, T.S. (1995). A Revolução Industrial. Mira-Sintra: Publicações Europa -América. In trad. de Jorge de Macedo. FREIRE, Paulo (s/d). Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra. LEVÊQUE, Pierre (1998). As Primeiras Civilizações - Volume I – Os Impérios do Bronze. Lisboa: Edições 70. PRADA, Valentin Vazquez de (1966). História Económica Mundial II – Da Revolução Industrial à Actualidade. Porto: Livraria Civilização Editora. In trad. de Armando Bacelar e Elisa Amado Bacelar. VILAR, Alcino Matos (1993). Inovação e Mudança – Na Reforma Educativa. Rio Tinto: Edições Asa. SILVA, Fábio Gomes et al (s/d). A Promoção da Inovação Tecnológica nas Organizações através da Gestão do Conhecimento: Um Estudo de Caso na Indústria de Embalagens. In: http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/ebook/producao1/9_Fabio_Gomes_da_Silva.pdf Acedido em 1/10/2011, 9h:40mn.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CONTRASTE

Na ressaca de um feliz dia
Sentimos um vácuo em nós
Um vazio desesperante
Uma fina dor leviana
Que não nos larga nunca.

Na ressaca de um triste dia
Ressentimentos nos turvam a vida
Desencantando a saudade e a ternura
A inquietude assalta todo sossego.
A serenidade foge em nós.
A vida se torna amarga


E nós da tristeza nada sabemos
Se a tristeza não a tivermos.
Se o doce amarga, a razão baila

VERDADES

Quero dizer tanta coisa, mas não sei dizer o quê na verdade.
Queria confessar-te algumas verdades sobre o efeito das tuas palavras,
Mas não encontro as palavras certas para me expressar.

Desejo dizer-te muita coisa bonita,
No entanto, fico limitado para não ser inconveniente.

Gostaria poder desacreditar-te,
Contudo acho-te cheia de certezas nas tuas palavras
Que colocam algumas reservas e pena em mim mesmo.

Gostaria aceitar normalmente a tuas palavras,
Mas infelizmente elas ecoam em mim como espinhos.

Gostaria de aceitar a tua coragem,
Mas, na verdade, mesmo que eu queira,
O meu coração fala mais alto.

Pretendia poder dar a cada uma das tuas acções uma razão,
Mas elas mesmo encontram a força de arrependimento.

Na verdade, na tua vida não deixo de ser um verdadeiro inconveniente,
Um intruso a ser repelido imediatamente.
Esta vida tem com cada contrastes!
Muito lamentável, mesmo tendo sido um “relâmpago”
A experiência vivida, marcou-nos.

Foi bom e muito saudável ter vivido esse “flash”.
E, a cada dia, queres fazer-me acreditar
Que vais lutar contra todo esse sentimento bom.
No fundo, consideras-me um inimigo a esquecer.

domingo, 20 de setembro de 2009


"As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável".


Madre Teresa de Calcutá

AMIGO APRENDIZ

Poema do amigo aprendiz. Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz,
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

LEMBRE SEMPRE

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalho sem fadigas, relacionamentos sem desilusões. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Que a vergonha não esteja acima da nossa digna moçambicanidade

É neste momento de eleições que importa lembrar e valorizar os ideais de Mondlane e de todos os seus corajosos companheiros para perpetuarmos com muito orgulho esses mesmos ideais que não cabe agora os enumerar. Chega dessa vergonha que estamos a viver um pouco pelo país.
Senhores políticos, respeitem o povo, o eleitorado. E acreditem na vontade do povo e não o agitem a violência. Procurem o voto com palavras carinhosas e o povo irá compreender-vos dando o seu voto de confianca.
Afinal, irmãos, onde ficaram as péssimas recordações de guerra? …

Os heróis confundidos na história


Há uma questão que sempre me deixou sem respostas: quem é um herói nacional e/ou herói moçambicano? Este questionamento vem atravessando-me a cabeça desde que comecei a duvidar das várias definições que fui encontrando por aí e que me levaram a perceber muito pouco sobre o que ainda não encaixei dessas mesmas definições. É difícil resistir a esta falta de entendimento se lembrarmos que Mataca, Ngungunhane e muitos outros com os mesmos feitos ao longo da nossa história defendendo os seus ideais e resistindo ao colonialismo e que hoje tenham sido diferentemente tratados e rotulados de heróis nacionais ou moçambicanos, ou ainda esquecidos completamente. Parece-me ainda que falta um esclarecimento público para os moçambicanos perceberem claramente os conceitos de moçambicanidade e de nacionalidade. Pois basta de tanta vergonha quando se tenta discutir publicamente esses conceitos uma vez que conta sempre a voz de quem tem força para calar os outros.
Porque o que muitas vezes se escreve nos manuais nem sempre retrata o que foi na prática com muitos destes nossos ditos heróis. Ora, sabemos muito bem onde começavam e terminavam os impérios de Gaza e outros tantos. Na verdade, sabemos também o quão de nacional esses reis defenderam e em que consistiram os seus falsos e verdadeiros heroísmos. No entanto, as novas gerações de moçambicanos precisam saber a verdade desses “endeusamentos” porque nós (outros moçambicanos) tivemos os nossos reis anónimos também mas que não foram engrandecidos nem exaltados neste país. Há aqui uma questão de moçambicanidade que tem sido esquecida: Que lugar têm os nossos heróis anónimos?
- Primeiro, o herói anónimo pode ter sido esquecido por uma razão funcional;
- Segundo, pode-se tratar de uma vertente específica e especializada de somente envolver a comunidade guerrilheira;
- Terceiro, é importante perceber se os heróis anónimos perante os engrandecidos respondem aos ideais colocados pelos políticos guerrilheiros deste país;
- Quarto, é necessário não se render em relação às força de orgulho e de poder – para perceber se há lugar para os heróis anónimos e para que se perceba que a homogeneização do país depende muito de condicionantes políticas, sociais, culturais, profissionais e históricas.

A nossa experiência africana em relação as nossas emergentes democracias, leva-nos a questionar, na verdade, o lugar de alguns dos nossos heróis no futuro. Que valor terá o actual herói face a complexidade e heterogeneidade política e multipartidária do nosso país? Daí que as nossas novas gerações precisam ter uma outra compreensão do mundo para que não se repitam os erros do passado.
Não queria aqui revelar algum posicionamento político sobre a questão de identidade nacional e de herói nacional, mas reafirmar, como meu direito de opinião e de expressão, porque este facto adquiriu características (im)próprias para a nossa nação, havendo daí uma necessidade de (re)definição do conceito de herói tendo em conta um elemento comum a todos moçambicanos e da (re)aproximação de um quadro heróico com um status de herói nacional, que sirva os fins da integração nacional partindo da época colonial até aos nossos dias.
Este novo quadro responderá inequivocamente a uma grande perspectiva de homogeneização na diversidade da nação sem que constitua um processo de exclusão e de segmentação dentro de Moçambique, permitindo a inclusão de todos no todo.
Esta nova (re)definição de heróis deverá permitir não só o engrandecimento dos heróis de guerra, mas também dos que a sociedade poderá vir a dar créditos pelos seus actos heróicos na dignificação da nação perante o mundo

sábado, 12 de setembro de 2009

A NOSSA INSENSIBILIDADE

É muito duro sentir aquilo que algumas pessoas nos dizem com uma coragem como se nunca tivessem algum sentimento e menor grau de piedade em algumas decisões e nos tratam como animais. É difícil perceber a volta que certas pessoas inventam para se sentirem mais felizes passando por cima daquelas que muito bem lhes podem fazer. É duro engolir a coragem com que algumas pessoas fazem as suas experiências em nós. É muito fácil dizer coisas que podem ferir aos outros e nos sentiremos muito felizes com isso.... É um enorme prazer ver os outros rastejarem aos nossos pés impotentes sem posssibilidade de se defenderem. Como poderemos perceber a atitude de arrependimento de uma pessoa adulta depois de ter tomado uma decisão que ficará marcada para toda a vida dela? Como engolir a atitude de alguém que num dia nos fez sentir outra pessoa feliz e noutro nos mata toda a felicidade que nos fez sentir? Como esquecer a sinceridade usada para nos convencer que não nos desejam nunca mais? Quando a decisão parte de outros certamente somos impotentes infelizmente e ainda nos perguntam se temos algo a dizer? Que tipo de pessoa pode ter dito essas coisas e sair sorrindo como se nada tivesse acontecido? E ainda por cima nos dizem que são "anormais"? A crueldade deste mundo é muito chata como é servida aos outros com tanta naturalidade. Como acreditar que aquela pessoa que foi nossa companheira num momento nos deixa noutro sem nenhum pré-aviso? E ainda nós perguntam se temos mais alguma coisa a dizer? Isso é inacreditável infelizmente! É tanta sacanagem num só momemto devidido em duas faces. Uma face servida com muito carinho e outra face servida com muita indiferenca e frieza. É deficil perceber a rudeza com que somos eliminados nos coracões de certas pessoas muito queridas. E ainda nos perguntam se somos adolescentes?
Com toda essa verdade será possivel mesmo odiá-las? Nunca! Porque em vez de nos consumir moralmente nos destroem emocionalmente e nos eliminam fisicamente.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MOCAMBIQUE

As DORES DAS CIDADES MOÇAMBICANAS
Por: José Baptista

Dói-me escrever estas coisas, mas terei de superar essa dor para que não doa mais em mim e nas pessoas que vivem e convivem com essas mesmas dores. Quero falar de um problema pequeno herdado do colonialismo e que a cada dia que passa se torna num problemão de difícil digestão.

O normal no mundo é termos cidades rodeadas por subúrbios, no entanto, o conceito de cidade, ou melhor, o desenvolvimento deste conceito em Moçambique está a evoluir ao contrário. Ora vejamos, as cidades herdadas do colonialismo foram concebidas para um limitado grupo populacional e os subúrbios serviam para os grupos maioritários mais desfavorecidos, pobres, sem ou com parcos rendimentos: os renegados da civilização colonial. Aliás, as coisas estavam de tal forma que as montanhas de cimento e betão dominavam o cenário e a paisagem. Contudo, o fundo miserável dessas cidades era constituído por montes de zinco, paus, capim, desordem, imundice e lixo (verdadeiros abrigos de sobrevivência humana).

Desde cedo, o ambiente nas nossas cidades mostrou a diversidade ricos/ meio ricos/ pobres como em qualquer parte do mundo. Os primeiros a viverem na urbanização e os outros nos arredores. No entanto, este é um outro problema que não me interessa de momento desenvolver. Voltado ao assunto das minhas dores, hoje enfrentamos um problema pouco visível, mas que, na verdade, é um grave problema para o futuro das nossas cidades.

Tendo em conta o fenómeno das favelas, apesar de ser um pouco exagerado fazer essa referência pouco comparável, evidentemente, para o caso de Moçambique, é aqui importante descrevê-lo. Observando, por exemplo, a cidade de Nampula (uma verdadeira demonstração de desenvolvimento urbanístico pós-independência), nota-se que as ditas expansões da cidade estão a acontecer em todos os sentidos geográficos e actual cidade futuramente será engolida pela cidade nova. E será entre a fronteira desses dois meios que a minha dor encontra eco de “favelização”. Nisto quero dizer, o centro desta cidade será formado pelos subúrbios. Ali teremos um cenário invertido porque perdeu-se muito tempo com outras coisas e quando as pessoas acordaram já não havia espaços para construir uma escola, uma rua, um parque infantil, um campo desportivo, um hospital, etc. E questionamos ainda onde param os nossos desportistas?

Na verdade, como ter desportistas se os espaços que serviriam para as crianças libertarem as suas energias foram vendidos e, no lugares deles construídos montes de barracas, armazéns e mesquitas? Daí que, no futuro, teremos verdadeiras selecções de bêbedos ou melhor frequentadores de barracas porque a nossa prática actual está virada mais para essa actividade. Quem não vê a quantidade de miúdos e jovens na calada da noite envolvidos nesse meio? Se você não vê, é melhor abrir os olhos e espreitar bem para a frente da sua casa. E vão dizer quem é o culpado? Eu não serei de certeza e muito menos você também. É lamentável ver os pátios das escolas desaparecerem em desfavor de blocos anexos de salas de aula e estes a remetem as nossas crianças para jogarem a bola na rua logo a frente das suas escolas. E logo irão vocês perguntar quem são os culpados? Eu não serei de certeza e muito menos você também.
(Texto incabado)

NIASSA

Terras virgens e um povo esquecido.
Por José Baptista


Se Moçambique tem hoje alguma terra virgem e inexplorada, essa terra pode ser o Niassa. Não falo de Lichinga, Cuamba, Metangula, Marrupa, Mecanhelas, etc . Falo de uma extensa mata selvagem nunca tocada e nunca explorada no interior do Niassa. E é dentro desta virgindade que se esconde o futuro do seu pequeno povo esquecido no tempo. Se o nomadismo foi prática para muitos, no Niassa ainda é quase prática viva. E não me perguntem a razão disso. Não sou a pessoa indicada para dar certas respostas.
No entanto, podemos questionar o que falhou antes e contínua a falhar no Niassa? A cegueira persistente e continuada dos que tem poder para mudar as coisas certamente. Entenda-se aqui que quando me refiro a “coisas”, refiro a “vida” de um povo sempre relegado para um plano da penumbra no contexto das políticas de desenvolvimento. Ora, só para exemplificar, este povo clama por estradas que tragam e levem comida sem sofrimento, mas eles (não sei quem)lhes dão estrada para levar turistas (meia dúzia deles). Há uma clara ideia de que o povo de Niassa vai esquecer que é esquecido. Claro que isto não deixa de ser uma política lamentável.
Qual é esse homem que se faz passar de cego? E não vê que as doenças, a fome, a sobrevivência daquele povo passa pela melhoria da estrada nacional Nampula- Cuamba e Cuamba - Lichinga; pela melhoria da rede ferroviária? Chega de pensar, nos tempos de hoje, que aquele povo deve ser tratado como galinha (sem dignidade humana). Chega da desumanização do Niassa. Quem gosta de ser tratado como selvagem? Basta de aberrações políticas! Ora, as falsas apostas:
O turismo é um grande recurso ainda a potenciar nesta terra, mas não é meio eficaz para desenvolver o Niassa pois este recurso tem as suas limitantes. E o povo do Niassa precisa de investimentos que tornem as suas povoações mais civilizadas e modernizadas e não tornar as suas terras em aglomerados perpetuadores do primitivismo. Só espero que não se faça do Niassa uma falsa reserva humana uma vez que este tipo de turismo feito nas reservas tendem muitas das vezes a promoverem o exotismo de pessoas e do seu habitat. E só espero que os turistas não confundam o nosso povo como mais um elemento da fauna bravia visitada.
Esse turismo exótico tornará o meu povo ainda mais atrasado e ultrapassado pelo tempo e tornará a vida dele ainda mais feroz apesar de protelar-se por aí que esses investimentos trarão melhorias na vida daquele povo. O que mesmo melhora? Devo reconhecer que nada está parado, mas as nossas apostas devem ser mais reais e concretas.
O que é necessário investir muito mais para além do que já aqui foi dito: agricultura, indústrias de óleos, de sabão, de enlatados para vegetais, sumos e frutas, água potável, pecuária, construção civil e desenvolvimento urbanístico, rede hospitalar e educacional, nos transportes de pessoas e não nos modelos pouco dignos como tem acontecido. Isto sem falar da industria mobiliária já que este território é imensamente rico em madeira.
O que é um facto aceitável? A distribuição de energia eléctrica, mas para ter a sua compensação, será necessário criar postos de empregos e de rendimento para que os projectos em curso não sejam mais realizações desperdiçadas e sem sustentabilidade financeira no futuro porque o comum cidadão não poderá pagar esse recurso se não tiver fontes de rendimento. E espero que os ditos "7 milhões"criem condicões favoráveis para que o povo tenha o seu rendimento familiar.
Estamos numa fase existencial em que as pessoas precisam de ser tratadas como humanas e não como “galinhas”. Desculpem estas franquezas, não devo levantar algumas consciências adormecidas que fingem ou pensam fazer política. Esse acto não é a minha intenção.
Estas causas são de todos nós, temos de assumir, reconhecer e intervir positivamente pois esta terra é nossa e este povo também é nosso. Já chega de dizermos que aprendemos com os erros que cometemos. É, pois, altura de não cometermos mais erros.
Aquele povo já merece mais um pouco de atenção, daí que, nós que sabemos disso, devemos levantar a voz e gritar para as pessoas que estão a fingir dormir para acordarem de verdade. O Niassa tem vida, mas não tem meios. Daí que deiam meios ao povo do Niassa.