quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CONTRASTE

Na ressaca de um feliz dia
Sentimos um vácuo em nós
Um vazio desesperante
Uma fina dor leviana
Que não nos larga nunca.

Na ressaca de um triste dia
Ressentimentos nos turvam a vida
Desencantando a saudade e a ternura
A inquietude assalta todo sossego.
A serenidade foge em nós.
A vida se torna amarga


E nós da tristeza nada sabemos
Se a tristeza não a tivermos.
Se o doce amarga, a razão baila

VERDADES

Quero dizer tanta coisa, mas não sei dizer o quê na verdade.
Queria confessar-te algumas verdades sobre o efeito das tuas palavras,
Mas não encontro as palavras certas para me expressar.

Desejo dizer-te muita coisa bonita,
No entanto, fico limitado para não ser inconveniente.

Gostaria poder desacreditar-te,
Contudo acho-te cheia de certezas nas tuas palavras
Que colocam algumas reservas e pena em mim mesmo.

Gostaria aceitar normalmente a tuas palavras,
Mas infelizmente elas ecoam em mim como espinhos.

Gostaria de aceitar a tua coragem,
Mas, na verdade, mesmo que eu queira,
O meu coração fala mais alto.

Pretendia poder dar a cada uma das tuas acções uma razão,
Mas elas mesmo encontram a força de arrependimento.

Na verdade, na tua vida não deixo de ser um verdadeiro inconveniente,
Um intruso a ser repelido imediatamente.
Esta vida tem com cada contrastes!
Muito lamentável, mesmo tendo sido um “relâmpago”
A experiência vivida, marcou-nos.

Foi bom e muito saudável ter vivido esse “flash”.
E, a cada dia, queres fazer-me acreditar
Que vais lutar contra todo esse sentimento bom.
No fundo, consideras-me um inimigo a esquecer.

domingo, 20 de setembro de 2009


"As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável".


Madre Teresa de Calcutá

AMIGO APRENDIZ

Poema do amigo aprendiz. Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz,
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

LEMBRE SEMPRE

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalho sem fadigas, relacionamentos sem desilusões. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Que a vergonha não esteja acima da nossa digna moçambicanidade

É neste momento de eleições que importa lembrar e valorizar os ideais de Mondlane e de todos os seus corajosos companheiros para perpetuarmos com muito orgulho esses mesmos ideais que não cabe agora os enumerar. Chega dessa vergonha que estamos a viver um pouco pelo país.
Senhores políticos, respeitem o povo, o eleitorado. E acreditem na vontade do povo e não o agitem a violência. Procurem o voto com palavras carinhosas e o povo irá compreender-vos dando o seu voto de confianca.
Afinal, irmãos, onde ficaram as péssimas recordações de guerra? …

Os heróis confundidos na história


Há uma questão que sempre me deixou sem respostas: quem é um herói nacional e/ou herói moçambicano? Este questionamento vem atravessando-me a cabeça desde que comecei a duvidar das várias definições que fui encontrando por aí e que me levaram a perceber muito pouco sobre o que ainda não encaixei dessas mesmas definições. É difícil resistir a esta falta de entendimento se lembrarmos que Mataca, Ngungunhane e muitos outros com os mesmos feitos ao longo da nossa história defendendo os seus ideais e resistindo ao colonialismo e que hoje tenham sido diferentemente tratados e rotulados de heróis nacionais ou moçambicanos, ou ainda esquecidos completamente. Parece-me ainda que falta um esclarecimento público para os moçambicanos perceberem claramente os conceitos de moçambicanidade e de nacionalidade. Pois basta de tanta vergonha quando se tenta discutir publicamente esses conceitos uma vez que conta sempre a voz de quem tem força para calar os outros.
Porque o que muitas vezes se escreve nos manuais nem sempre retrata o que foi na prática com muitos destes nossos ditos heróis. Ora, sabemos muito bem onde começavam e terminavam os impérios de Gaza e outros tantos. Na verdade, sabemos também o quão de nacional esses reis defenderam e em que consistiram os seus falsos e verdadeiros heroísmos. No entanto, as novas gerações de moçambicanos precisam saber a verdade desses “endeusamentos” porque nós (outros moçambicanos) tivemos os nossos reis anónimos também mas que não foram engrandecidos nem exaltados neste país. Há aqui uma questão de moçambicanidade que tem sido esquecida: Que lugar têm os nossos heróis anónimos?
- Primeiro, o herói anónimo pode ter sido esquecido por uma razão funcional;
- Segundo, pode-se tratar de uma vertente específica e especializada de somente envolver a comunidade guerrilheira;
- Terceiro, é importante perceber se os heróis anónimos perante os engrandecidos respondem aos ideais colocados pelos políticos guerrilheiros deste país;
- Quarto, é necessário não se render em relação às força de orgulho e de poder – para perceber se há lugar para os heróis anónimos e para que se perceba que a homogeneização do país depende muito de condicionantes políticas, sociais, culturais, profissionais e históricas.

A nossa experiência africana em relação as nossas emergentes democracias, leva-nos a questionar, na verdade, o lugar de alguns dos nossos heróis no futuro. Que valor terá o actual herói face a complexidade e heterogeneidade política e multipartidária do nosso país? Daí que as nossas novas gerações precisam ter uma outra compreensão do mundo para que não se repitam os erros do passado.
Não queria aqui revelar algum posicionamento político sobre a questão de identidade nacional e de herói nacional, mas reafirmar, como meu direito de opinião e de expressão, porque este facto adquiriu características (im)próprias para a nossa nação, havendo daí uma necessidade de (re)definição do conceito de herói tendo em conta um elemento comum a todos moçambicanos e da (re)aproximação de um quadro heróico com um status de herói nacional, que sirva os fins da integração nacional partindo da época colonial até aos nossos dias.
Este novo quadro responderá inequivocamente a uma grande perspectiva de homogeneização na diversidade da nação sem que constitua um processo de exclusão e de segmentação dentro de Moçambique, permitindo a inclusão de todos no todo.
Esta nova (re)definição de heróis deverá permitir não só o engrandecimento dos heróis de guerra, mas também dos que a sociedade poderá vir a dar créditos pelos seus actos heróicos na dignificação da nação perante o mundo

sábado, 12 de setembro de 2009

A NOSSA INSENSIBILIDADE

É muito duro sentir aquilo que algumas pessoas nos dizem com uma coragem como se nunca tivessem algum sentimento e menor grau de piedade em algumas decisões e nos tratam como animais. É difícil perceber a volta que certas pessoas inventam para se sentirem mais felizes passando por cima daquelas que muito bem lhes podem fazer. É duro engolir a coragem com que algumas pessoas fazem as suas experiências em nós. É muito fácil dizer coisas que podem ferir aos outros e nos sentiremos muito felizes com isso.... É um enorme prazer ver os outros rastejarem aos nossos pés impotentes sem posssibilidade de se defenderem. Como poderemos perceber a atitude de arrependimento de uma pessoa adulta depois de ter tomado uma decisão que ficará marcada para toda a vida dela? Como engolir a atitude de alguém que num dia nos fez sentir outra pessoa feliz e noutro nos mata toda a felicidade que nos fez sentir? Como esquecer a sinceridade usada para nos convencer que não nos desejam nunca mais? Quando a decisão parte de outros certamente somos impotentes infelizmente e ainda nos perguntam se temos algo a dizer? Que tipo de pessoa pode ter dito essas coisas e sair sorrindo como se nada tivesse acontecido? E ainda por cima nos dizem que são "anormais"? A crueldade deste mundo é muito chata como é servida aos outros com tanta naturalidade. Como acreditar que aquela pessoa que foi nossa companheira num momento nos deixa noutro sem nenhum pré-aviso? E ainda nós perguntam se temos mais alguma coisa a dizer? Isso é inacreditável infelizmente! É tanta sacanagem num só momemto devidido em duas faces. Uma face servida com muito carinho e outra face servida com muita indiferenca e frieza. É deficil perceber a rudeza com que somos eliminados nos coracões de certas pessoas muito queridas. E ainda nos perguntam se somos adolescentes?
Com toda essa verdade será possivel mesmo odiá-las? Nunca! Porque em vez de nos consumir moralmente nos destroem emocionalmente e nos eliminam fisicamente.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MOCAMBIQUE

As DORES DAS CIDADES MOÇAMBICANAS
Por: José Baptista

Dói-me escrever estas coisas, mas terei de superar essa dor para que não doa mais em mim e nas pessoas que vivem e convivem com essas mesmas dores. Quero falar de um problema pequeno herdado do colonialismo e que a cada dia que passa se torna num problemão de difícil digestão.

O normal no mundo é termos cidades rodeadas por subúrbios, no entanto, o conceito de cidade, ou melhor, o desenvolvimento deste conceito em Moçambique está a evoluir ao contrário. Ora vejamos, as cidades herdadas do colonialismo foram concebidas para um limitado grupo populacional e os subúrbios serviam para os grupos maioritários mais desfavorecidos, pobres, sem ou com parcos rendimentos: os renegados da civilização colonial. Aliás, as coisas estavam de tal forma que as montanhas de cimento e betão dominavam o cenário e a paisagem. Contudo, o fundo miserável dessas cidades era constituído por montes de zinco, paus, capim, desordem, imundice e lixo (verdadeiros abrigos de sobrevivência humana).

Desde cedo, o ambiente nas nossas cidades mostrou a diversidade ricos/ meio ricos/ pobres como em qualquer parte do mundo. Os primeiros a viverem na urbanização e os outros nos arredores. No entanto, este é um outro problema que não me interessa de momento desenvolver. Voltado ao assunto das minhas dores, hoje enfrentamos um problema pouco visível, mas que, na verdade, é um grave problema para o futuro das nossas cidades.

Tendo em conta o fenómeno das favelas, apesar de ser um pouco exagerado fazer essa referência pouco comparável, evidentemente, para o caso de Moçambique, é aqui importante descrevê-lo. Observando, por exemplo, a cidade de Nampula (uma verdadeira demonstração de desenvolvimento urbanístico pós-independência), nota-se que as ditas expansões da cidade estão a acontecer em todos os sentidos geográficos e actual cidade futuramente será engolida pela cidade nova. E será entre a fronteira desses dois meios que a minha dor encontra eco de “favelização”. Nisto quero dizer, o centro desta cidade será formado pelos subúrbios. Ali teremos um cenário invertido porque perdeu-se muito tempo com outras coisas e quando as pessoas acordaram já não havia espaços para construir uma escola, uma rua, um parque infantil, um campo desportivo, um hospital, etc. E questionamos ainda onde param os nossos desportistas?

Na verdade, como ter desportistas se os espaços que serviriam para as crianças libertarem as suas energias foram vendidos e, no lugares deles construídos montes de barracas, armazéns e mesquitas? Daí que, no futuro, teremos verdadeiras selecções de bêbedos ou melhor frequentadores de barracas porque a nossa prática actual está virada mais para essa actividade. Quem não vê a quantidade de miúdos e jovens na calada da noite envolvidos nesse meio? Se você não vê, é melhor abrir os olhos e espreitar bem para a frente da sua casa. E vão dizer quem é o culpado? Eu não serei de certeza e muito menos você também. É lamentável ver os pátios das escolas desaparecerem em desfavor de blocos anexos de salas de aula e estes a remetem as nossas crianças para jogarem a bola na rua logo a frente das suas escolas. E logo irão vocês perguntar quem são os culpados? Eu não serei de certeza e muito menos você também.
(Texto incabado)

NIASSA

Terras virgens e um povo esquecido.
Por José Baptista


Se Moçambique tem hoje alguma terra virgem e inexplorada, essa terra pode ser o Niassa. Não falo de Lichinga, Cuamba, Metangula, Marrupa, Mecanhelas, etc . Falo de uma extensa mata selvagem nunca tocada e nunca explorada no interior do Niassa. E é dentro desta virgindade que se esconde o futuro do seu pequeno povo esquecido no tempo. Se o nomadismo foi prática para muitos, no Niassa ainda é quase prática viva. E não me perguntem a razão disso. Não sou a pessoa indicada para dar certas respostas.
No entanto, podemos questionar o que falhou antes e contínua a falhar no Niassa? A cegueira persistente e continuada dos que tem poder para mudar as coisas certamente. Entenda-se aqui que quando me refiro a “coisas”, refiro a “vida” de um povo sempre relegado para um plano da penumbra no contexto das políticas de desenvolvimento. Ora, só para exemplificar, este povo clama por estradas que tragam e levem comida sem sofrimento, mas eles (não sei quem)lhes dão estrada para levar turistas (meia dúzia deles). Há uma clara ideia de que o povo de Niassa vai esquecer que é esquecido. Claro que isto não deixa de ser uma política lamentável.
Qual é esse homem que se faz passar de cego? E não vê que as doenças, a fome, a sobrevivência daquele povo passa pela melhoria da estrada nacional Nampula- Cuamba e Cuamba - Lichinga; pela melhoria da rede ferroviária? Chega de pensar, nos tempos de hoje, que aquele povo deve ser tratado como galinha (sem dignidade humana). Chega da desumanização do Niassa. Quem gosta de ser tratado como selvagem? Basta de aberrações políticas! Ora, as falsas apostas:
O turismo é um grande recurso ainda a potenciar nesta terra, mas não é meio eficaz para desenvolver o Niassa pois este recurso tem as suas limitantes. E o povo do Niassa precisa de investimentos que tornem as suas povoações mais civilizadas e modernizadas e não tornar as suas terras em aglomerados perpetuadores do primitivismo. Só espero que não se faça do Niassa uma falsa reserva humana uma vez que este tipo de turismo feito nas reservas tendem muitas das vezes a promoverem o exotismo de pessoas e do seu habitat. E só espero que os turistas não confundam o nosso povo como mais um elemento da fauna bravia visitada.
Esse turismo exótico tornará o meu povo ainda mais atrasado e ultrapassado pelo tempo e tornará a vida dele ainda mais feroz apesar de protelar-se por aí que esses investimentos trarão melhorias na vida daquele povo. O que mesmo melhora? Devo reconhecer que nada está parado, mas as nossas apostas devem ser mais reais e concretas.
O que é necessário investir muito mais para além do que já aqui foi dito: agricultura, indústrias de óleos, de sabão, de enlatados para vegetais, sumos e frutas, água potável, pecuária, construção civil e desenvolvimento urbanístico, rede hospitalar e educacional, nos transportes de pessoas e não nos modelos pouco dignos como tem acontecido. Isto sem falar da industria mobiliária já que este território é imensamente rico em madeira.
O que é um facto aceitável? A distribuição de energia eléctrica, mas para ter a sua compensação, será necessário criar postos de empregos e de rendimento para que os projectos em curso não sejam mais realizações desperdiçadas e sem sustentabilidade financeira no futuro porque o comum cidadão não poderá pagar esse recurso se não tiver fontes de rendimento. E espero que os ditos "7 milhões"criem condicões favoráveis para que o povo tenha o seu rendimento familiar.
Estamos numa fase existencial em que as pessoas precisam de ser tratadas como humanas e não como “galinhas”. Desculpem estas franquezas, não devo levantar algumas consciências adormecidas que fingem ou pensam fazer política. Esse acto não é a minha intenção.
Estas causas são de todos nós, temos de assumir, reconhecer e intervir positivamente pois esta terra é nossa e este povo também é nosso. Já chega de dizermos que aprendemos com os erros que cometemos. É, pois, altura de não cometermos mais erros.
Aquele povo já merece mais um pouco de atenção, daí que, nós que sabemos disso, devemos levantar a voz e gritar para as pessoas que estão a fingir dormir para acordarem de verdade. O Niassa tem vida, mas não tem meios. Daí que deiam meios ao povo do Niassa.

sábado, 29 de agosto de 2009

As férias do rato

Nem o meu povo que não sabe ler acredita em fugas. Nem ninguém! Ora, a verdade é uma, este rato conhece bem o caminho e sempre passa lá as suas espectaculares férias e de que maneira!

Tem sido tão fácil ir e vir como se a terra de Mandela fosse aí no Alto Maé.
E quando regressa? Aí é que são elas! Transporte “free”. Escolta de luxo, grandes títulos nas primeiras páginas e ainda com direito a entrevista. E qual é o jornal, a rádio ou televisão que não quer vender a “nossa vergonha”?

Se é que são especulações, estas fugas são verdadeiras obras de arte. Não essa arte que o comum cidadão está habituado a ver, é uma arte da manha, da sujeira. Não vou falar da máfia pois isso é coisa muito graúda. Aceitemos que “aqui há gato”- como o povo costuma dizer! E que gato!

Olhando bem pelos cenários das fugas, chego a pensar que existe uma “comédia policial” já inventada no meu país. Como se explica que o mesmo rato “fuja”várias vezes das ditas cenas de “segurança máxima”? A verdade é uma, este rato não está sozinho. E muita sujeira este rato sabe e como sabe! Nem imagino quantos perdem o sono quando este rato regressa: uns para programarem novas férias, outros para impedirem as ditas férias e outros ainda por sentirem as suas cabeças à prémio.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Pobres dos Nossos ricos,

Por Mia Couto


A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.

Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.

Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.


A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".

Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.

É produto de roubo e de negociatas.
texto truncado
ELEMENTOS FANTÁSTICOS NO CONTO “A CARTEIRA DO CROCODILO” DE MIA COUTO

Por José Baptista

Vou-me debruçar sobre os elementos fantásticos do conto:“A carteira de crocodilo”. Neste conto, o fenómeno fantástico se representa em torno da metamorfose da “serpentealização” ou melhor, da metamorfose de um homem em serpente.

“A carteira de crocodilo” é um conto literário do escritor da actualidade literária moçambicana, Mia Couto. É importante também referir que “A carteira de crocodilo” é uma narração fantástica e que ela não tem um efeito moralizador, mas de deixar a ideia de que tudo é possível ao encaixar-se no normal o anormal ou vice-versa. E enquanto conto literário, este texto é parte de um conjunto de contos publicados por Mia Couto na obra “Contos do nascer da terra”. Mia Couto teve todo cuidado em preservar, neste conto, o enigma mágico envolvente do simbolismo cultural Bantu e enquanto “narrativa de transmutação fantasmática” e ele também soube pincelar nele a metáfora da imaginação com alguns aspectos recorrentes deste tipo de literatura milenar.

O actual estudo é importante porque nos permite viver o modo fantástico na perspectiva africana em expressão portuguesa e na mão de um grande escritor moçambicano e perceber como os elementos e os contornos fantásticos vão surgindo ao longo da narrativa literária.

Se olharmos e se tentarmos perceber a vida do homem, é imprescindível regressar aos primórdios deste ser, pois, desde esses momentos que ele convive com o “estranho” ou sobrenatural e/ ou o desconhecido mundo dos seres, das coisas, dos fenómenos inexplicáveis aos seus olhos, mas possíveis para a sua mente através da imaginação. Daí que é fácil ligar o homem e a palavra fantástica. Esta palavra tem a sua origem etimológica derivada do adjectivo grego phantastikós, com a significação de “representação imaginária”( Pires, 2001: 36).

A palavra fantástica arrasta ao longo dos tempos diversos significados e, quando associada a área do literário, esta tem mostrado ser ambígua. A referida palavra quando consultada nos dicionários mantém a significação inicial “relativo a imaginação; capaz de imaginar (…) a faculdade de imaginar, a imaginação; a faculdade de imaginar coisas vãs, de criar ilusões” (Machado, 1952:1014).
A palavra em referência associa-se a um campo semântico grande e ilustra ter uma ligação com os substantivos fantasma (do grego phantasma) que significa “ser imaginário, espectro”, e fantasia (do grego phantasia ou de phantazo, “faço aparecer), “acto de se mostrar, aparição, aparição de coisas extraordinárias, que causam ilusão, visão, espectáculo…acto de provocar a imaginação; imagem que aparece ao espírito, ideia, pensamento, concepção”(Ibidem).

O fantástico como modo ou género de discurso


A questão envolvente deste tópico encontra justificação no prefácio de Maria Fernandes ao observar-se “que a problemática dos modos do discurso é simultaneamente trans-histórica e transgeográfica, é transcultural e transliterária, pois extrapola as fronteiras espaciais e as dos tempos histórico-culturais, sem esquecer as da Literatura”. Encontrando-se, desta forma, a justificativa de considerar-se o fantástico como sendo um dos modos do discurso humano e que os escritores a utilizam na sua actividade de construir mundos ficcionais.

Quando podemos dizer que uma certa narrativa ou um determinado episódio é fantástica ou realista? A responda deste questionamento é assegurado na afirmação de Maria Fernandes:
A consideração de uma narrativa ou um episódio como fantástico ou como episódio pode, pois, depender sensivelmente dos contextos culturais e dos sujeitos humanos envolvidos, o que impede que haja uma diferença destes termos. Mudado o sistema de crenças, mudado o mundo e a sua história, mudam-se os usos e as interpretações das palavras e das imagens criadas pelos diferentes povos, muito especialmente pelos seus respectivos artistas.

Roas (2001:8) afirma que “[…] la literatura fantástica es el único género literario que no puede funcionar sin la presencia de lo sobrenatural […]. Y lo sobrenatural es aquello que transgredí las leyes que organizan el mundo real, aquello que no es explicable, que no existe, según dichas leyes”.

O fantástico na escrita de Mia Couto

O conto de Mia Couto “carteira de crocodilo” faz parte de um manancial de contos fantásticos escritos por este ao longo destes anos. Neste caso concreto, o texto ora em referência foi publicado na obra “Contos do nascer da terra” em 1997 pela Caminho. E, no âmbito da literatura moçambicana de expressão portuguesa, Mia Couto é um ficcionista que encontra a sua motivação fantástica no imaginário popular e, principalmente, na cultura moçambicana Bantu e inspira-se também nas práticas linguísticas do dia a dia próprias do seu povo.

“A carteira de crocodilo” é uma prosa literária, isto é, uma comunicação estética, em que a conotação confere o “tom artístico”ao texto e, deste modo, impelindo um “ar desviante” em relação à norma da língua. Em outras palavras, o texto literário “transgride as regras do código normativo, desvia-se dele pelo recurso a expressões que fogem à sua aplicação usual. Os significantes adquirem novos significados […] afasta-nos da referência prática […] leva-nos à conotação” (Carmo & Dias, s/d: 61-62).

A temática em “ A carteira de crocodilo”


Em relação à temática do conto, esta é sugerida e anunciada no texto, como sendo a metamorfose, implicitamente pelo título: “A carteira do crocodilo”. Esta temática transporta o leitor para um referencial próprio das narrativas fantásticas de um sistema de crenças africanas em que o horizonte cultural “vive” muito do sentido fantástico do duplo.

À medida em que a diegese avança, depreende-se que o processo de metamorfose dos seres n’Outro dá continuidade à vida noutros seres como o crocodilo e/ou serpente. Este título, só por si, revela explicitamente a intenção temática de apresentação fantástica do conto e faz transparecer valores indiciais dissimulados nesse título.

O texto literário e personagens do fantástico

Ao abordar-se a questão do texto literário, como neste caso de “A carteira de crocodilo”, é necessário ter presente “as suas características principais” deste tipo de texto tais como Carmo & Dias (s/d: 64) apontam “ausência de referente, delimitação ou fechamento, linguagem conotativa e produtividade”. Assim, em relação à primeira , pretende-se afirmar que, no referido texto, tem um referente fictício ou imaginário também designado de “simulacro de referente” (Carmo & Dias, s/d: 64).

Neste contexto, as personagens: o senhor governador-geral, Sacramento; a dona Francisca Júlia Sacramento (esposa do governador-geral); Clementina e as amigas desta, no âmbito do discurso do texto literário, não poderão ser, de modo algum, identificadas com qualquer indivíduo real. Como também poderiam ser sugeridos outros nomes para as referidas personagens e, facilmente, conclui-se que o conteúdo da mensagem não sofreria modificações ao alterar esses nomes. Isto se justifica no seguinte: “A existência de um referente real limitaria o texto a uma função informativa” (Carmo & Dias, s/d: 64-65).

Quanto às personagens no conto fantástico, segundo Ribeiro “o conceito de Propp pode muito bem ser aplicado à personagem fantástica, por dois motivos. Primeiro, […]. Todo e qualquer ser fictício, mesmo o não mimético como é o caso do ser fantástico, pode ser considerado um feixe de funções na narrativa”. Ainda sobre este assunto, Ribeiro referencia Propp que este “não se preocupa em qualificar as acções das personagens para classificá-las”, no entanto, classifica as personagens consoante as funções que desempenham no texto.

“A carteira de crocodilo” é um texto literário, ele é também considerado literatura fantástica e, consequentemente, as suas personagens são fantásticas. Tzevetan Todorov explica, na sua obra Introdução à literatura fantástica o que é o fantástico na literatura, no modo seguinte:

As histórias que pertencem a este género nos deixam as perguntas: Realidade ou Sonho? Verdade ou ilusão? Quando um leitor se depara com um mundo que é exatamente como o seu, qualquer acontecimento que fuja às leis desse mundo familiar cria a dúvida e a incerteza sobre a possibilidade do fato ser ou não real”. Todorov dirá que “o fantástico ocorre nesta incerteza […] O conceito de fantástico se define pois com relação aos de real e de imaginário […] A hesitação não só da personagem, como também do leitor é a condição primeira do fantástico”- Tzevetan Todorov citado por Nunes, Sandra Regina Chaves.

Neste conto a acção se representa em torno da metamorfose da “serpentealização” ou melhor, o ser humano metamorfosear-se em serpente. Daí que no conto depreende-se um esquema de momentos enigmáticos.

Mia Couto, neste conto, revela algumas características e elementos ou mesmo referências culturais impregnados no seu escrito narratológico fantástico e que ele sabe aproveitar, perfilar e dar um peculiar sentido fantástico as suas narrativas representativas modo fantástico ao transportar para o conto o efeitos do insólito: “ […] Imagine-se, tinha emergido da carteira […]. Acontecera em instantâneo momento: a malograda ia tirar algo da mala e sentiu que ela se movia, esquiviva:”(Couto, 1997: 102).

O conto finaliza com a antroponimização do governador-geral. Mas antes “o que sucedeu, então, foi o inacreditável. O governador Sacramento suspendeu a palavra e espreitou o chão que o sustinha. […] e se apressou a tirar os sapatos. Entre a audiência ainda alguém vaticinou: - Vai ver que os sapatos se convertem em cobra […] sucedeu exactamente o inverso […]” (Couto, 1997: 102).

Texto incompleto.

A TIMBILA

Timbila: Património Oral e Imaterial da Humanidade

Origem da timbila

As primeiras referências à Timbila surgem em escritos portugueses do século XVI.
A timbila (instrumento), quanto à sua existência na costa sudeste de África, considera-se que tenha provavalmente surgido em resultado dos contactos, no século X, com a actual Indonésia (onde existe também este instrumento); A timbila é originária do povo chope (em Zavala, Inharime, Panda, Vilanculos e Homoine), província de Inhambane, sul de Moçambique.

Descrição:

A timbila é um instrumento tradicional moçambicano da família dos xilofones. A timbila (plural de mbila = lâmina de madeira) apresenta a sua particularidade nas massalas (nas cabaças de vários tamanhos que funcionam como caixas de ressonância e que se encontram por baixo de cada lâmina de madeira); Cada lâmina apresenta um pequeno orifício pelo qual o som é transmitido até à caixa de ressonância.

A timbila
É, a timbila, uma arte transmitida de pais para filhos; Demora perto de três meses e meio.

Execução:
A tímbila é tocada com duas baquetas que na ponta têm um anel de borracha; A constituição da orquestra de timbila, são necessários vários tipos de mbilas que se diferenciam pelo número, tamanho (em comprimento e largura) e pelo tamanho das suas cabaças.

Antigamente:

Em encontros designados de “msaho”, nestes os chefes tribais e tradionais (em Zavala) reuniam as populações para confratenizarem, cantando e dançando.

Nesses encontros, realizavam-se actuações musicais e dançantes com timbilas (escolhia-se e premiava-se melhores artistas) e discutiam-se detalhes relacionados com as construções das timbilas.

Actualmente:

Na Primavera, realizam-se festivais de timbilas que reunem as melhores orquestras para a apresentação e avaliação de novas composições musicais.

Cada uma das orquestras pode reunir até vinte músicos e apenas compor uma peça por ano (sempre a partir da anterior) para que se mantenham as particularidades musicais de cada orquestra.

A timbila é obra prima do património oral intangível da humanidade constituindo o reconhecimento de uma manifestação cultural autóctone que não é mais pertença somente das comunidades Chope ou dos moçambicanos como povo, mas sim da humanidade. (ex-vice Ministro da Educação e Cultura: Antónia Xavier ).

Em 2004, a timbila foi considerada património mundial pela UNESCO e Novembro de 2005: - É reconhecido o estatuto universal.

razão


Perguntas por quem grito?
Por falar alto, perguntas de quem falo?
Perguntas porquê nunca me calo?
PORQUE EXISTO!

Vês as minhas lágrimas escorrerem a cada humilhação?
Vês muitas vezes o meu rosto sem sorriso?
Vês a minha testa cheio de rugas?
Vês as riscas dos meus lamentos?
PORQUE EXISTO!

Sentes que também sou amado?
Sentes que posso odiar?
Sentes que posso lutar?
Sentes que posso resistir?
Sentes que posso vencer?
PORQUE EXISTO!

E SE EXISTO, NÃO PODES IGNORAR-ME!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SENTIDO DA VIDA

Se muitos de nós deixassemos de pensar que vivemos para o amanhã e vivessemos o agora talvez cada um de nós daria outro sentido a VIDA. Cada um de nós valorizaria o amigo/a que tem e amaria o ar que respira hoje. Percebiria, cada um de nós, que o hoje nunca se repete e que o amanhã poderá não chegar NUNCA... e se chegar, esse outro dia sempre será HOJE e nunca amanhã.
Temos de ser realistas, se queremos amar, amemos hoje pois este verbo NÃO ADMITE passado nem futuro pois se nós afirmarmos que "amei"ou "amarei" isso será algo sem sentido e irreal.
É PRECISO TER CERTEZA E ACREDITAR NO HOJE. DIGA SEMPRE "AMO"!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Reflectir

Sei quem pode mudar o mundo.
Mundo, já pensei como eras sem fogo.

Fogo... sei que mudaste o mundo.
Mundo, ainda choras...
Fogo, ainda mudas o meu mundo?

Mundo, ainda vais ter fogo.

Mundo, criaste o Homem...
o Homem criou o fogo.
E fogo quer destruir-te?

SilvoAlegre