quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MOCAMBIQUE

As DORES DAS CIDADES MOÇAMBICANAS
Por: José Baptista

Dói-me escrever estas coisas, mas terei de superar essa dor para que não doa mais em mim e nas pessoas que vivem e convivem com essas mesmas dores. Quero falar de um problema pequeno herdado do colonialismo e que a cada dia que passa se torna num problemão de difícil digestão.

O normal no mundo é termos cidades rodeadas por subúrbios, no entanto, o conceito de cidade, ou melhor, o desenvolvimento deste conceito em Moçambique está a evoluir ao contrário. Ora vejamos, as cidades herdadas do colonialismo foram concebidas para um limitado grupo populacional e os subúrbios serviam para os grupos maioritários mais desfavorecidos, pobres, sem ou com parcos rendimentos: os renegados da civilização colonial. Aliás, as coisas estavam de tal forma que as montanhas de cimento e betão dominavam o cenário e a paisagem. Contudo, o fundo miserável dessas cidades era constituído por montes de zinco, paus, capim, desordem, imundice e lixo (verdadeiros abrigos de sobrevivência humana).

Desde cedo, o ambiente nas nossas cidades mostrou a diversidade ricos/ meio ricos/ pobres como em qualquer parte do mundo. Os primeiros a viverem na urbanização e os outros nos arredores. No entanto, este é um outro problema que não me interessa de momento desenvolver. Voltado ao assunto das minhas dores, hoje enfrentamos um problema pouco visível, mas que, na verdade, é um grave problema para o futuro das nossas cidades.

Tendo em conta o fenómeno das favelas, apesar de ser um pouco exagerado fazer essa referência pouco comparável, evidentemente, para o caso de Moçambique, é aqui importante descrevê-lo. Observando, por exemplo, a cidade de Nampula (uma verdadeira demonstração de desenvolvimento urbanístico pós-independência), nota-se que as ditas expansões da cidade estão a acontecer em todos os sentidos geográficos e actual cidade futuramente será engolida pela cidade nova. E será entre a fronteira desses dois meios que a minha dor encontra eco de “favelização”. Nisto quero dizer, o centro desta cidade será formado pelos subúrbios. Ali teremos um cenário invertido porque perdeu-se muito tempo com outras coisas e quando as pessoas acordaram já não havia espaços para construir uma escola, uma rua, um parque infantil, um campo desportivo, um hospital, etc. E questionamos ainda onde param os nossos desportistas?

Na verdade, como ter desportistas se os espaços que serviriam para as crianças libertarem as suas energias foram vendidos e, no lugares deles construídos montes de barracas, armazéns e mesquitas? Daí que, no futuro, teremos verdadeiras selecções de bêbedos ou melhor frequentadores de barracas porque a nossa prática actual está virada mais para essa actividade. Quem não vê a quantidade de miúdos e jovens na calada da noite envolvidos nesse meio? Se você não vê, é melhor abrir os olhos e espreitar bem para a frente da sua casa. E vão dizer quem é o culpado? Eu não serei de certeza e muito menos você também. É lamentável ver os pátios das escolas desaparecerem em desfavor de blocos anexos de salas de aula e estes a remetem as nossas crianças para jogarem a bola na rua logo a frente das suas escolas. E logo irão vocês perguntar quem são os culpados? Eu não serei de certeza e muito menos você também.
(Texto incabado)

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