quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os heróis confundidos na história


Há uma questão que sempre me deixou sem respostas: quem é um herói nacional e/ou herói moçambicano? Este questionamento vem atravessando-me a cabeça desde que comecei a duvidar das várias definições que fui encontrando por aí e que me levaram a perceber muito pouco sobre o que ainda não encaixei dessas mesmas definições. É difícil resistir a esta falta de entendimento se lembrarmos que Mataca, Ngungunhane e muitos outros com os mesmos feitos ao longo da nossa história defendendo os seus ideais e resistindo ao colonialismo e que hoje tenham sido diferentemente tratados e rotulados de heróis nacionais ou moçambicanos, ou ainda esquecidos completamente. Parece-me ainda que falta um esclarecimento público para os moçambicanos perceberem claramente os conceitos de moçambicanidade e de nacionalidade. Pois basta de tanta vergonha quando se tenta discutir publicamente esses conceitos uma vez que conta sempre a voz de quem tem força para calar os outros.
Porque o que muitas vezes se escreve nos manuais nem sempre retrata o que foi na prática com muitos destes nossos ditos heróis. Ora, sabemos muito bem onde começavam e terminavam os impérios de Gaza e outros tantos. Na verdade, sabemos também o quão de nacional esses reis defenderam e em que consistiram os seus falsos e verdadeiros heroísmos. No entanto, as novas gerações de moçambicanos precisam saber a verdade desses “endeusamentos” porque nós (outros moçambicanos) tivemos os nossos reis anónimos também mas que não foram engrandecidos nem exaltados neste país. Há aqui uma questão de moçambicanidade que tem sido esquecida: Que lugar têm os nossos heróis anónimos?
- Primeiro, o herói anónimo pode ter sido esquecido por uma razão funcional;
- Segundo, pode-se tratar de uma vertente específica e especializada de somente envolver a comunidade guerrilheira;
- Terceiro, é importante perceber se os heróis anónimos perante os engrandecidos respondem aos ideais colocados pelos políticos guerrilheiros deste país;
- Quarto, é necessário não se render em relação às força de orgulho e de poder – para perceber se há lugar para os heróis anónimos e para que se perceba que a homogeneização do país depende muito de condicionantes políticas, sociais, culturais, profissionais e históricas.

A nossa experiência africana em relação as nossas emergentes democracias, leva-nos a questionar, na verdade, o lugar de alguns dos nossos heróis no futuro. Que valor terá o actual herói face a complexidade e heterogeneidade política e multipartidária do nosso país? Daí que as nossas novas gerações precisam ter uma outra compreensão do mundo para que não se repitam os erros do passado.
Não queria aqui revelar algum posicionamento político sobre a questão de identidade nacional e de herói nacional, mas reafirmar, como meu direito de opinião e de expressão, porque este facto adquiriu características (im)próprias para a nossa nação, havendo daí uma necessidade de (re)definição do conceito de herói tendo em conta um elemento comum a todos moçambicanos e da (re)aproximação de um quadro heróico com um status de herói nacional, que sirva os fins da integração nacional partindo da época colonial até aos nossos dias.
Este novo quadro responderá inequivocamente a uma grande perspectiva de homogeneização na diversidade da nação sem que constitua um processo de exclusão e de segmentação dentro de Moçambique, permitindo a inclusão de todos no todo.
Esta nova (re)definição de heróis deverá permitir não só o engrandecimento dos heróis de guerra, mas também dos que a sociedade poderá vir a dar créditos pelos seus actos heróicos na dignificação da nação perante o mundo

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