quarta-feira, 9 de setembro de 2009

NIASSA

Terras virgens e um povo esquecido.
Por José Baptista


Se Moçambique tem hoje alguma terra virgem e inexplorada, essa terra pode ser o Niassa. Não falo de Lichinga, Cuamba, Metangula, Marrupa, Mecanhelas, etc . Falo de uma extensa mata selvagem nunca tocada e nunca explorada no interior do Niassa. E é dentro desta virgindade que se esconde o futuro do seu pequeno povo esquecido no tempo. Se o nomadismo foi prática para muitos, no Niassa ainda é quase prática viva. E não me perguntem a razão disso. Não sou a pessoa indicada para dar certas respostas.
No entanto, podemos questionar o que falhou antes e contínua a falhar no Niassa? A cegueira persistente e continuada dos que tem poder para mudar as coisas certamente. Entenda-se aqui que quando me refiro a “coisas”, refiro a “vida” de um povo sempre relegado para um plano da penumbra no contexto das políticas de desenvolvimento. Ora, só para exemplificar, este povo clama por estradas que tragam e levem comida sem sofrimento, mas eles (não sei quem)lhes dão estrada para levar turistas (meia dúzia deles). Há uma clara ideia de que o povo de Niassa vai esquecer que é esquecido. Claro que isto não deixa de ser uma política lamentável.
Qual é esse homem que se faz passar de cego? E não vê que as doenças, a fome, a sobrevivência daquele povo passa pela melhoria da estrada nacional Nampula- Cuamba e Cuamba - Lichinga; pela melhoria da rede ferroviária? Chega de pensar, nos tempos de hoje, que aquele povo deve ser tratado como galinha (sem dignidade humana). Chega da desumanização do Niassa. Quem gosta de ser tratado como selvagem? Basta de aberrações políticas! Ora, as falsas apostas:
O turismo é um grande recurso ainda a potenciar nesta terra, mas não é meio eficaz para desenvolver o Niassa pois este recurso tem as suas limitantes. E o povo do Niassa precisa de investimentos que tornem as suas povoações mais civilizadas e modernizadas e não tornar as suas terras em aglomerados perpetuadores do primitivismo. Só espero que não se faça do Niassa uma falsa reserva humana uma vez que este tipo de turismo feito nas reservas tendem muitas das vezes a promoverem o exotismo de pessoas e do seu habitat. E só espero que os turistas não confundam o nosso povo como mais um elemento da fauna bravia visitada.
Esse turismo exótico tornará o meu povo ainda mais atrasado e ultrapassado pelo tempo e tornará a vida dele ainda mais feroz apesar de protelar-se por aí que esses investimentos trarão melhorias na vida daquele povo. O que mesmo melhora? Devo reconhecer que nada está parado, mas as nossas apostas devem ser mais reais e concretas.
O que é necessário investir muito mais para além do que já aqui foi dito: agricultura, indústrias de óleos, de sabão, de enlatados para vegetais, sumos e frutas, água potável, pecuária, construção civil e desenvolvimento urbanístico, rede hospitalar e educacional, nos transportes de pessoas e não nos modelos pouco dignos como tem acontecido. Isto sem falar da industria mobiliária já que este território é imensamente rico em madeira.
O que é um facto aceitável? A distribuição de energia eléctrica, mas para ter a sua compensação, será necessário criar postos de empregos e de rendimento para que os projectos em curso não sejam mais realizações desperdiçadas e sem sustentabilidade financeira no futuro porque o comum cidadão não poderá pagar esse recurso se não tiver fontes de rendimento. E espero que os ditos "7 milhões"criem condicões favoráveis para que o povo tenha o seu rendimento familiar.
Estamos numa fase existencial em que as pessoas precisam de ser tratadas como humanas e não como “galinhas”. Desculpem estas franquezas, não devo levantar algumas consciências adormecidas que fingem ou pensam fazer política. Esse acto não é a minha intenção.
Estas causas são de todos nós, temos de assumir, reconhecer e intervir positivamente pois esta terra é nossa e este povo também é nosso. Já chega de dizermos que aprendemos com os erros que cometemos. É, pois, altura de não cometermos mais erros.
Aquele povo já merece mais um pouco de atenção, daí que, nós que sabemos disso, devemos levantar a voz e gritar para as pessoas que estão a fingir dormir para acordarem de verdade. O Niassa tem vida, mas não tem meios. Daí que deiam meios ao povo do Niassa.

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